sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A história de Mim contra Eu!


"Era uma vez dois carinhas que não se desgrudavam em momento algum. Eu Mesmo, um cara bem intencionado, esforçado, disposto... e Mim Mesmo, um sujeitinho danado, tinhoso e manipulador. Por motivos congênitos, apesar da discrepância de caráter entre estas duas figuras, eles sempre estavam juntos, literalmente colados. Eles eram siameses.

Duas cabeças diferentes, vontades diferentes, interesses idem, pensamentos antônimos mas apenas um par de pernas e de braços. Que luta! Enquanto Eu, o bonzinho, queria amadurecer, ser útil, honesto e sincero, Mim, por sua vez, só pensava em fazer coisas que satisfizessem seus desejos imediatistas, que por sinal não eram nada nobres. E aí só dava uma perna puxando para um lado, outra para o outro, braços descoordenados se estapeando e nada de acordo. Mim, extremamente manipulador, sempre dava um jeito de enganar Eu, que acabava se enfiando em situações extremamente constrangedoras. Quem observava os dois acabava achando que eram farinha do mesmo saco, afinal, diga-me com quem andas...

Eu já estava cansado desta situação e começou a arquitetar um plano contra Mim. Eu sabia o que e como fazer pra Mim não perceber que Eu estava tramando algo. Eu se esforçou ao máximo para transformar a vida de Mim em um suplício. Tudo que Mim inventava de fazer Eu ia junto mas, na hora H, dava os maiores vexames e queimava o filme de Mim. Mim, então, ficou desesperado e percebeu que não dava mais para levar Eu para acompanhá-lo em suas tramóias. E tomou uma decisão: Vamos nos separar. Mas a separação de Mim e Eu não seria algo simples de acontecer. Teria que ser dividido tudo ao meio... E tem coisa que não dá para dividir, né?!

Mas estava tudo tão dramático para Mim que ele insistiu, insistiu, insistiu e Eu acabou aceitando. E começaram a definir como seria a divisão dos membros e órgãos, quem ficaria com o que. Tudo que era duplo foi mais fácil de dividir, um braço pra cada um, uma perna, pulmão, rim, meio fígado para cada um... Mas e o coração? Quem ficaria com o coração original e quem receberia um novo?

Mim deu o maior escândalo, disse que não aceitaria ter o coração de outra pessoa dentro da sua metade em hipótese alguma, clamava que aquele coração batia forte para realizar todos os desejos que sempre teve. Eu, apesar de receoso quanto ao novo coração, resolveu aceitar. A cirurgia foi feita com sucesso. Como Mim ficou com o coração original, se recuperou muitíssimo mais rápido e, em poucos meses, já estava realizando todas as extravagâncias que sempre sonhara. Eu, por sua vez, demorou muito para se recuperar. Ficou anos de cama, teve que fazer muitas outras cirurgias, tomar remédios, e sofreu muito. Depois de um longo tempo, Eu pode recomeçar sua vida do zero sempre tomando um cuidado redobrado por causa do seu frágil coração.

Anos se passaram e um dia Eu, já bem recuperado, resolveu procurar Mim, que havia desaparecido. E qual não foi sua surpresa ao saber que Mim havia falecido. Ficou atônito e procurou descobrir qual fora o motivo.

Mim morrera do coração, dois anos depois da cirurgia. Tantos foram os abusos que, em uma overdose, o orgão tão saudável que ficara para Mim não suportou.

Eu ficou muito triste mas se sentiu aliviado pois sabia que havia algo tão ruim em Mim que poderia ter levado ambos para o buraco.

Hoje, Eu é casado, muito feliz e realizado... mesmo sendo metade do que era."

Sei que to meio distante da blogosfera, mas se Deus quiser tudo vai se normalizar em breve^^ abraço a todos que continuam lendo meu espaço... Paz....

3 comentários:

Anônimo disse...

mano, seus posts são ótimos!
A única coisa que eu lamento é que eu não tenho tempo de esmiuçar seus textos e tirar deles todas as ideias necessárias para a formação de minha opinião.
Mas eu ainda vou conseguir! o/
hehe

Aline Leal disse...

É lindo... mas tão triste D:
Mesmo q EU tenha sido feliz pela metade, nao dá pra imaginar isso na vida real...
Tenho consiliar minhas duas metades desconexas pra nao perder nenhuma das duas.

Coutinhovsk disse...

Crise existencial heim tiago? eu vs mim? heheheh... tá certo.

Falando sério agora: existe, de fato, uma luta dentro de cada um de nós. Algumas religiões dizem ser a luta de forças do bem contra as do mal, outras entendem que dentro de cada um de nós existem forças benignas ou malignas. A psicanálise, por sua vez, fala de uma disputa entre duas lutas: o Id e o Superego que representam a busca pelo prazer e o respeito as regras, respectivamente. Entre estas duas forças existe uma outra, o Ego, a qual compete lidar de forma satisfatoria com os desejos do Id e as restrições do Superego. O interessante da psicanálise é que ela desfaz a idéia de bem e mal já que ambos os desejos (por prazer e pelas regras) possuem seu valor e sua importância.

Assim, na luta do Eu contra o Mim (ou entre qualquer uma das forças existentes dentro de nós) o importante não é aniquilar uma das forças, mas lidar com elas de maneira satisfatória.